domingo, 17 de outubro de 2010

Há alternativa sim!


Produzi uma resenha (no prelo) para a Revista Novos Rumos. O texto trata da nova publicação do capítulo 18 de Para Alem do Capital, de István Mészáros, transformado em livro pela Boitempo. Atualidade Histórica da Ofensiva Socialista chega em boa hora e serve para exterminar as ilusões tupiniquins sobre o Estado como motor de transformações sociais. Para os nulistas, um convite à luta. Para os dilmistas, um importante alerta sobre as capitulações históricas.


Um breve trecho ajuda a entender os argumentos de Mészáros.


"As reformas elaboradas no centro da política institucional pouco adicionam ao projeto socialista. Mészáros esclarece que as “traições” dos partidos de características trabalhistas (o caso inglês em particular) - que quando chegam ao governo realizam um programa voltado à expansão do capital - não surgem como resultado do “caráter” dos líderes desses grupos, embora essa também seja uma variável comum, mas do fato irrefutável de que o capital é a força extraparlamentar par excellence. As capitulações das iniciativas socialistas que adquirem vagas no parlamento nos mostram que essa esfera de poder não está isolada do metabolismo social, sendo parte da estrutura de funcionamento da ordem. As concepções liberais sustentam a democracia institucional como um espaço neutro, que permite a discussão e aplicação de políticas voltadas ao bem-estar geral. Quando o movimento socialista se rende a este discurso ideológico, perde a capacidade de debater o vínculo orgânico existente entre a política e a reprodução material da sociedade. O corolário dos novos tempos dado pelo autor defende que “sem o estabelecimento de uma alternativa radical ao sistema parlamentar não pode haver esperança de desembaraçar o movimento socialista de sua atual situação, à mercê das personificações do capital que existem em suas fileiras”[1]. Para combater a força extraparlamentar do capital, só a força extraparlamentar do trabalho, organizado em um movimento de massas renovado, última chance da humanidade frente ao seu momento mais sombrio. Socialismo ou barbárie, já apontava Rosa Luxemburgo."


[1] István Mészáros. Atualidade histórica da ofensiva socialista: uma alternativa radical ao sistema parlamentar (São Paulo: Boitempo Editorial, 2010), p. 15.

terça-feira, 3 de agosto de 2010

MST afasta-se de estratégia eleitoral


A posição oficial do movimento confirmou o esperado: nada de apoio eleitoral da organização aos candidatos ao pleito de 2010. Contudo, vai o alerta da coordenação nacional para que os militantes e simpatizantes votem, no caso do legislativo, em candidatos progressistas que apoiam a Reforma Agrária. A luta entre bancada ruralista e deputados a la esquierda mostraram que o cenário fica muito pior sem algum apoio na esfera política estatal. A perspectiva de luta popular e independência organizativa vence a batalha interna e, embora a recomendação para não apoiar Serra seja clara, não há menção a Dilma no Editorial do JST do mês corrente. "Compreendemos que a energia da nossa militância deve ser direcionada para o esforço de construir novas táticas de luta, adequadas a um momento histórico de reascenso, sem rebaixar nossos objetivos estratégicos; de fortalecer a organização, a formação política e o trabalho de base", defende o documento.

Confira a íntegra do texto aqui.

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Próximos passos


Começou a contagem regressiva para o Exame de Qualificação. Tenho o intuito de condensar em pelo menos dois (ou três) capítulos o eixo principal da tese, ou seja, o que entendo por mística e MST, no sentido de uma formação humana voltada à transição. Há pelo menos três conexões fundamentais desse estudo: mística e alienação; mística e ética e mística e arte. Antes, contudo, quero tecer uma argumentação profunda sobre o potencial do movimento frente as contingências atuais da classe trabalhadora e seu papel enquanto mediação para uma nova sociabilidade, oposta ao capital. Os movimentos de massa centrados no mundo do trabalho, concordando com minha cara Pinassi (2009), trazem um fato novo às elucubrações clássicas (e dos manuais) seguidoras de uma noção enquadrada de mudança revolucionária. Nesse sentido, um dos principais desafios desse meu caminho será comprovar a capacidade desse movimento em ser gestor de um novo modelo civilizatório, mesmo reconhecendo seus limites enquanto movimento camponês voltado à distribuição de terras aos espoliados da zona rural. Do ponto de vista do amadurecimento de uma ideologia emancipatória e da promoção de uma consciência de classe, acredito ser inegável o papel central do MST na elaboração de uma visão esquerdista crítica do mundo presente. Perguntando, caminhamos.

domingo, 25 de julho de 2010

Para uma crítica da ecologia política


Tarefas mais imediatas no percurso de minha vida docente em Parintins levaram-me a desenvolver uma breve reflexão sobre a noção de desenvolvimento sustentável, tão propalada na mídia e no paradigma hegemônico das pesquisas em Ciências Humanas. O texto saiu na iniciativa da UFAM, Revista Mutações. Mesmo não se relacionando diretamente ao tema de meu doutoramento, creio que essas notas diretamente apontam um percurso crítico sobre os desafios atuais dos grupos resistentes. Imediatamente senti o amargor de alguns colegas, acostumados ao olhar "rosado" da pós-modernidade e seus fragmentos. Essa corrente crítica percebe qualquer tentativa de reflexão mais radical um ressuscitar daquilo que chamam de "marxismo ortodoxo". Infelizmente não conhecem o defunto de forma madura (o marxismo morreu?) e ainda insistem na leitura de outros manuais, os da boçalidade cômoda do ecletismo vulgar. Leiam e julguem por si próprios.




segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Novas paisagens


Sim, reconheço o abandono do blog. Mas assumi nos últimos meses novos desafios profissionais, preenchendo a vaga de Professor Assistente de Jornalismo na Universidade Federal do Amazonas em Parintins. A disciplina de Estética que ministro no curso de Artes Plásticas ajudou bastante minha tese no sentido de compreensão da arte dentro de uma perspectiva marxista, linha que segui no curso embasasado em textos de Lukács, Kosik, Tertullian e Mészáros. O lugar da arte no pensamento de Marx passa pela compreensão de dois aspectos principais: a práxis e a atitude realista. Ora, já que o fator determinante do sujeito é sua relação com a realidade objetiva, num caminho de autoconstituição da espécie, a verdadeira arte teria a obrigação de ser a consciência adequada desta realidade. Assim, a grande arte pode ter o poder de desalienar os indivíduos. O realismo crítico aponta os percalços que gera a desumanização do homem. Parece-me que a mística passa por essa categoria. Mas não sejamos kantianos, os movimentos da realidade são muito mais definidores dos fenômenos do que o exercício de encaixar as categorias conceituais de forma priorística. Estou articulando as visitas aos acampamentos do MST para janeiro. É uma importante fase da pesquisa que se esboça.